quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Performance X Roupa

Lendo uma matéria sobre figurinos, comecei a pensar nos trajes no Tribal Fusion. É indiscutível que a nossa dança (assim como qualquer outra) é uma arte visual e, como tal,  tem um apelo estético muito forte, a roupa se torna parte indispensável da performance. Mas e quando a roupa é tão, mas tão incrível que chama mais atenção do que a dança em si? Devo confessar que já me peguei assistindo vídeos em que a graça estava mais na produção do que na dança. E eu nunca tinha me dado conta desse fato antes! Geralmente, quando a maior parte dos elogios vai para sua roupa, é porque foi o que mais marcou na apresentação.
Quando dançamos, tem uma mistura de fatores que fazem com que alguém goste ou não do que estamos fazendo. É uma quantidade grande de informação sendo transmitida em alguns poucos minutos. Vejamos: música (ou mix musical se tiver mais que uma),  imagem, a dança, a atmosfera geral da performance, a expressão... É uma quantidade considerável de informação para se absorver. Às vezes, é difícil perceber o que foi que realmente tocou. Por isso acontece muito de se uma bailarina tem apelo visual super forte, agrada muito mais facilmente. Muitas vezes quem assiste não sabe se o que foi bom foi a dança, a atmosfera geral, ou simplesmente algo que foi muito agradável aos olhos por alguns minutos. É claro que é muito importante que tenhamos uma imagem que seja harmoniosa. Mas,  se ao final de uma apresentação, todo mundo comentar apenas sobre a minha roupa, eu vou achar que deu alguma coisa muito errada dessa vez... A roupa deve servir a dança, e não o contrário! Então, por mais que seja importante termos uma boa imagem, um traje bem elaborado, com aparência profissional, que nos valorize e valorize a nossa dança da melhor maneira possível, não queremos trajes que falem por si só, e sim trajes que precisem de nós para se comunicarem!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Artista ou Artesão?

Há muitos anos que eu queimo os miolos pensando na questão do estilo próprio. Para mim é uma das questões  mais profundas no Tribal Fusion, que é por si uma modalidade que abraça infinitas variáveis de estilo. Mas, por trás de todas essas variáveis de fusão (indiana, moderna, jazz, etc.), existe ainda um fator mais profundo que é o motor da dança em si. Como o SEU corpo se move? Como ELE e SÓ ELE executa esses movimentos, sejam eles de Tribal Fusion, dança indiana, ATS ou seja lá o que for?

Alguns meses atrás eu tive um grande insight sobre esse assunto ao assistir um documentário italiano chamado "Cinema feito à mão", sobre os ateliês na Itália que fabricam os figurinos e cenários dos filmes de Hollywood. O documentário é muito bom e recomendo para quem gosta de cinema! Porém o que realmente me marcou foi uma das entrevistas, com um exímio escultor que fazia cenários. O trabalho dele era absolutamente perfeito. Quando indagado pelo entrevistador sobre sua arte, ele respondeu: "Sou um artesão, não um artista. Artista é quem inventa, cria". Para mim essa noção foi um divisor de águas sobre o assunto. É simples e óbvio assim, só que eu nunca tinha conseguido concretizar de forma tão clara: o artesão pode até fazer tudo, ser o melhor, mas artista é quem cria.
A técnica não faz de ninguém artista. Dançar não faz de ninguém artista. Artista é quem cria, vai além da reprodução. Reproduzir as técnicas de uma determinada dança não representa trabalho artístico se não houver apropriação delas. Enquanto a técnica não se torna verdadeiramente sua, pessoal, ela não passa de uma técnica como tantas outras. Daí a importância de criar um repertório próprio, conhecer seu corpo, investir o suor. Para ser artista, e não artesão. E aí, qual caminho você escolhe? ;-)